Ali estava ele. Mãos trêmulas segurando o volante, olhar tenso e introspectivo ao mesmo tempo, pernas um tanto vacilantes e com uma pergunta na mente: Como foi que eu cheguei aqui?
Lembrou de quando entrou na empresa como um menino que auxiliava em tudo, desde serviços de banco até remessas, limpeza, passando por carimbadas e entrega de lanches para os companheiros de serviço. Lembrou-se de como foi sendo promovido, dos incentivos que recebeu para estudar e como isso lhe levou a ser um homem de confiança do chefe. Seu salário ainda não era bom, mas a confiança que nele estava depositada, o levava a pensar em um futuro promissor. Agora ele estava dentro do carro e vendo como tinha crédito com seu superior.
Minutos atrás, havia sido chamado na sala do chefe e recebido uma missão: buscar uma encomenda pessoal do outro lado da cidade. Como iria? O chefe lhe emprestaria o carro. Definitivamente não era qualquer carro. Era um Porsche Carrera GT – me perdoem os aficionados por carros, mas dispensarei maiores descrições. Sem muito tempo para cumprir a ordem, resolve sair. Sua expressão de tensão era resultado do medo de fazer algo errado, de causar algum dano no carro emprestado, de decepcionar quem tanto lhe confiara.
Enquanto segue pelas ruas da cidade, permanece concentrado no caminho, em evitar perigos até chegar ao destino. Pega a encomenda, entra no carro, a sensação é de missão cumprida. Ele relaxa, sente-se mais a vontade. Olha para o relógio e percebe que conseguiu ir bem rápido.
Ao passar em frente a uma padaria, decide comer. Freia bruscamente, tão bruscamente que um ciclista acaba batendo na traseira do carro. Agora, sem apetite e perplexo, resolve encontrar algum lugar para consertar o carro. Acho que não é tão fácil encontrar uma auto-elétrica que conserte lanternas de Porsches. Em sua busca, parado em um sinal, um motoqueiro, apressado com suas atividades, quebra o retrovisor do carro. Pra encurtar a história, foram sucessivos arranhões e pequenas colisões, em um dia que muitos chamariam de “azarado” - claro que alguns prefeririam chamar o autor de excessivamente trágico.
Enfim de volta ao escritório a pergunta é: O que vou dizer? Ou melhor: O que vou ouvir? O fato era simples: o chefe lhe confiou seu carro valiosíssimo e lhe deu uma missão. Cumprir a ordem sem se desviar, era o que deveria fazer. Como explicaria que por sair da rota, comprometeu tão valioso bem? Como você se explicaria? Ou melhor:
Como você vai explicar que por sair da rota estabelecida pelo Chefe, acabou danificando o bem valioso que Ele confiou em suas mãos?
Pense nisso, enquanto espera.
“Não sabeis vós, que vosso corpo é Templo do Espírito Santo e que não sois de vós mesmos?”
I Coríntios 6:19
Pr. Tiago Rodrigues