O culto estava lindo. Era a primeira vez que eu visitava a Igreja Automática. Havia poucas pessoas, mas isso não tinha a menor importância. O que realmente importava era que a cerimônia começava e terminava na hora exata. Todos os equipamentos funcionavam com perfeição. Pontualmente às 8h30 da manhã, um sistema de automação abria os portões e as portas da igreja, e ligava o ar condicionado central. Às 8h45 era ligado o aparelho de DVD conectado a um vídeo projetor, devidamente posicionado, e o serviço de cânticos era iniciado, tudo automático, sem precisar de intervenção humana nem regente.
Ao terminar os momentos de louvor prévio, teve início a Escola Sabatina, transmitida via satélite. O informativo mundial era transmitido diretamente do local onde os fatos ocorreram, mostrando pessoas e lugares, dando mais realidade e uma melhor compreensão da mensagem.
As mensagens musicais eram videoclipes de cantores já consagrados, o que garantia a qualidade. Nesse ponto, a Igreja Automática era um espetáculo, um show. Cantores de outros países também se apresentavam. Cantavam em outros idiomas, com legendas, mas nem precisava, porque se alguém quisesse saber do que tratava a letra da música, poderia buscar a tradução na internet.
A lição era transmitida ao vivo via satélite, sendo portanto explanada de forma geral, e não havia momentos de divisão em unidades, porque isso tomaria muito tempo. Cada pessoa registrava seu estudo diário e trabalho missionário em um terminal na entrada.
As ofertas e os dízimos também eram entregues na entrada, onde havia um terminal bancário para transferências eletrônicas. O dinheiro em espécie deixou de ser utilizado na igreja, sendo apenas utilizado na forma de cartões de crédito ou débito em conta. Essa medida deixou a igreja mais segura, evitando assaltos. Também fora contratado um seguro, e um bom sistema de câmaras de vigilância instalado, para impedir o roubo dos equipamentos. Como funcionava sem precisar de pessoas, essa igreja era tecnicamente à prova de erros.
Após o fim da lição, a Escola Sabatina era rapidamente encerrada, dando início ao Culto. Os anúncios incômodos foram substituídos por flashes rápidos inclusos no rodapé do telão, e enviados a cada membro presente por e-mail. Essa medida economizou vários minutos da programação. Os hinos congregacionais eram sempre regidos pelo DVD, assim como as mensagens de boas vindas, invocação e leitura de púlpito antes das ofertas.
O sermão era apresentado por um pastor muito conhecido, que havia produzido algumas séries de DVDs. Cada sábado era apresentado um dos sermões da série programada. Toda a programação era gravada com antecedência, e a igreja recebia um pacote de DVDs semestralmente. E o tempo era cronometrado: em exatos 25 minutos o sermão terminava. Assim, a Igreja Automática dependia menos do pastor que, às vezes, cometia o pecado de falar até quase meio dia.
Antes da Igreja Automática, havia a necessidade de preparo espiritual individual, do culto familiar, do estudo da Bíblia e da atuação do Espírito Santo na vida de cada cristão para dar-lhe o poder de testemunhar. Naqueles tempos, um discípulo precisava apenas de uma Bíblia para evangelizar. Sua vida era o reflexo do que pregava. Um pastor ou um irmão era mais conhecido pela conduta, pelo conhecimento e pela forma como se relacionava com as pessoas. Hoje os equipamentos e a tecnologia substituíram quase tudo isso. O contato pessoal está sendo substituído pelo virtual, e o conhecimento pelo equipamento. O povo outrora conhecido como o povo da Bíblia, atualmente é o povo do DVD, do notebook e do vídeo-projetor. A julgar pelo rumo que estamos tomando, aonde realmente chegaremos?
Nota do Autor: Este artigo foi escrito com o propósito de causar uma reflexão ou discussão sobre o uso de recursos substituindo pessoas, e da impessoalidade a que estamos sujeitos a viver dentro da igreja. Nunca foi seu propósito combater o uso de recursos, tecnológicos ou não, ou atacar qualquer igreja, cargo, função ou pessoa, apenas evitar o exagero.