sábado, 16 de abril de 2011

Comentário da Lição - Prof. Sikberto Renaldo Marks - Lição 4 - 2º Trim. 2011

Lições da Escola Sabatina Mundial – Estudos do Segundo Trimestre de 2011
Tema geral do trimestre: Vestes da Graça
Estudo nº 04 – A Túnica de Várias Cores
Semana de  16 a 23 de abril
Comentário auxiliar elaborado por Sikberto Renaldo Marks, professor titular no curso de Administração de Empresas da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ (Ijuí - RS)
Este comentário é meramente complementar ao estudo da lição original
www.cristovoltara.com.br - marks@unijui.edu.br - Fone/fax: (55) 3332.4868
Ijuí – Rio Grande do Sul, Brasil


Verso para memorizar:E Israel amava a José mais do que todos os seus filhos, porque era filho da sua velhice; e fez-lhe uma túnica de várias cores” (Gên. 37:3, RC).

Introdução de sábado à tarde
Qual foi a gênese dos problemas entre os filhos de Jacó (ou Israel) com José? Onde se localiza a causa inicial da animosidade que resultou na cruel decisão de vender José?
A rigor, poderíamos dizer se iniciou no Céu, quando Lúcifer se revoltou contra DEUS. Se não quisermos ir tão longe, poderíamos dizer que foi quando Adão e Eva pecaram. Mas não podemos estender as causas de modo tão distante. Há um critério para definirmos a localização da causa específica que provocou a situação conflituosa na família de Jacó. Qual será?
Alguns poderiam dizer que foi por ter Jacó amado mais a José do que aos demais filhos. Isso gerou o conflito, é verdade; mas não é a causa inicial desse conflito. Outros poderiam ir um pouco mais longe, e dizer que foi porque se casou com duas esposas e teve ainda duas concubinas. Isso fez com que aparecessem conflitos entre as mulheres, que disputavam filhos, coisa bem comum naqueles tempos. Mas, é de se lembrar, essa disputa só acontecia se um homem tivesse mais de uma esposa. No entanto, por que razão ele se casou com mais de uma esposa? A resposta a essa pergunta é a causa inicial do conflito dos irmãos de José. E depois dessa causa inicial, apareceram outras, umas ligadas a ela, outras independentes dela, ou seja, que poderiam ter acontecido mesmo sem aquela causa inicial.
Qual foi então a causa inicial? Foi o fato de Jacó não ter prestado atenção com que mulher se uniu de fato na noite de núpcias. Nem notou que nas núpcias se deitou com Lia, a irmã de Raquel. Casou com uma mulher, mas se deitou com outra. Só nisso já resultou por ter duas esposas, que brigavam entre si. Quando ele descobriu que a mulher que de fato casara não era a que amava, concordou em receber, como esposa, mais uma mulher, a que amava. E aí começou uma sucessão de conflitos que quase arrasou com a família toda.
Isso nos leva a uma lição para aprendermos. Aliás, o comentário de sábado à tarde na Lição está muito bom. Sobrou espaço para mais umas linhas, porém recomendo refletir bastante sobre o que a autora Myrna escreveu, sem se estender muito, indo direto ao ponto, que é ter mais de uma esposa, e deixar que o pecado avance e se desenvolva ao longo do tempo.
A situação com as mulheres de Jacó levou-o a ter 12 filhos e uma filha, mas que não eram filhos de uma só mulher. Havia meio irmãos, favoritismos de Jacó com uma das esposas, que ainda teve concubinas que também lhe davam outros filhos e geravam mais conflitos entre as mulheres por causa de ter filhos e por causa do que os filhos faziam. No lar de Jacó houve uma disputa, entre as mulheres, pela quantidade de filhos que geravam. Essa era outra característica pagã da época, assim como temos hoje coisas mundanas que geram perturbações, e que trazemos para dentro do lar. E só resultou em problemas, que DEUS teve que resolver com muita calma. E para arrematar, Jacó se aproximou mais de um dos filhos, que era José. E havia uma explicação que ele dava, mas que não justifica: esse era filho de sua velhice. Acontece que havia ainda outro filho, mais novo que José, Benjamin, mas não era o favorito. E Jacó resolveu tornar explícito esse favoritismo por meio de um ato concreto: fez para José uma túnica especial, só para ele, não para os outros filhos. Isso, além de favoritismo, era provocação para os outros. Jacó, talvez inconscientemente, estava desafiando os outros filhos a se manterem submissos a ele, embora não gostasse tanto deles quando de José.
Um erro não justifica o outro, ou outros. José, embora de bom caráter, obediente ao pai e fiel a DEUS, tornou-se menino mimado, e se via melhor que os demais. Teve uma educação nos princípios de DEUS, pelo visto, favorecido em relação aos demais, tanto que DEUS usou este filho, e nenhum outro, para levar a família mais tarde ao Egito. Mas a preferência levou José a se ver como especial. José ficou assim desde bebê, portanto, não podemos exigir dele que fosse diferente, se seu pai o moldou assim desde o nascimento. Porém, seus irmãos mais velhos deveriam ter agido de modo diferente. Em vez de venderem a seu irmão e mentirem a seu pai, poderiam ter solicitado uma reunião familiar para orar e debater o assunto, e buscar uma solução de consenso.
O que provocou, pelo visto, uma animosidade maior dos irmãos contra José foi a túnica. Houve outras provocações, como a preferência de Jacó, e também o fato de José ser gabola contando os sonhos que tivera. E talvez ainda outras não relatadas no pequeno espaço do Gênesis sobre o assunto. Uma túnica era símbolo de status naqueles tempos. Dar de presente algo assim, era a mais alta demonstração de apreço que se poderia fazer. E Jacó fez isso só com José. O que você acha? Além de Jacó ter-se casado com várias mulheres, ele estava ou não estava contribuindo para piorar o já mau relacionamento na família? Foi uma sucessão de erros, um causando outro, e ali ninguém se dispôs a dar um basta para interromper a síndrome de degeneração no lar de Jacó. A interrupção foi causada de maneira dramática, não aprovada por DEUS, ao venderem José, separando o favorito de seu pai. Essa separação foi necessária tanto para Jacó quanto para José. E então DEUS entrou em cena de forma poderosa, protegendo José e tornando-o o governador do Egito. José pôde refletir sobre sua inclinação de superior aos demais irmãos, e Jacó pôde refletir sobre sua conduta em favorecer José. O final foi bom, mas a trajetória poderia ter sido bem outra, e deveria ter sido sem conflitos, se Jacó não tivesse cometido alguns erros e descuidos bem bobos.

  1. Primeiro dia: A origem de um desastre familiar
“Jacó não foi feliz em seus casamentos, embora suas esposas fossem irmãs. Ele formulou com Labão um contrato de casamento com sua filha Raquel, a quem amava. Depois de ter servido sete anos por Raquel, Labão o enganou e lhe deu Lia. Quando Jacó compreendeu o engano que tinha sido praticado contra ele, e que Lia tinha tido parte em enganá-lo, ele não pôde amá-la. Labão desejou reter os fiéis serviços de Jacó por maior espaço de tempo, então o enganou dando-lhe Lia em lugar de Raquel. [E também era o costume pagão da época casar primeiro a filha mais velha. Mas o que os filhos de DEUS têm a ver com esses costumes?] Jacó reprovou Labão por leviandade com suas afeições, dando-lhe Lia, a quem não amava. Labão persuadiu Jacó a não repudiar Lia, pois isso seria considerado uma grande desgraça, não somente para a esposa, mas para toda a família.
“Jacó foi colocado numa posição muito difícil, mas decidiu ainda reter Lia, e também casar com sua irmã. Lia era amada com muito menos intensidade do que Raquel. [Eis aqui o contexto para um lar infeliz.]
“Labão era egoísta em seus negócios com Jacó. Pensava unicamente em vantagens próprias do fiel labor de Jacó. Este teria deixado o astucioso Labão muito antes, mas temia encontrar-se com Esaú. Ouvia as queixas dos filhos de Labão, dizendo: "Jacó se apossou de tudo o que era de nosso pai; e do que era de nosso pai juntou ele toda essa riqueza. Jacó, por sua vez, reparou que o rosto de Labão não lhe era favorável, como anteriormente."
“Jacó ficou angustiado. Não sabia para que lado se volver. Apresentou seu caso a Deus e rogou pela Sua direção. O Senhor misericordiosamente respondeu a sua angustiada oração. "E disse o Senhor a Jacó: Torna à terra dos teus pais, e à tua parentela e Eu serei contigo." Gên. 31:3” (História da Redenção, 89 e 90).
Ou seja, Jacó havia cometido grave erro com seu irmão Esaú. Por isso agora dependia de Labão, e a ele estava submisso, pois se tivesse que sair dali, para onde iria? Portanto, com que moral Jacó poderia discutir com Labão quando foi enganado na troca de Raquel por Lia? Teve que ficar quieto, não podendo mais do que resmungar um pouco e se resignar. Há erros que cometemos que se voltam contra nós gerando consequências ruins muito tempo depois. O melhor é sempre andarmos com DEUS; isso é o mais seguro.

  1. Segunda: José e seus irmãos
Que coisas motivaram o ódio dos irmãos de José contra ele? Façamos uma lista:
<!--[if !supportLists]-->ð  <!--[endif]-->O pai o amava mais que aos outros filhos seus;
<!--[if !supportLists]-->ð  <!--[endif]-->O pai deu a José uma capa especial, e não deu um presente equivalente aos demais filhos;
<!--[if !supportLists]-->ð  <!--[endif]-->José era de rara beleza física (nisso se destacava entre os seus irmãos);
<!--[if !supportLists]-->ð  <!--[endif]-->Ele era fiel a DEUS, puro, alegre e de bom caráter e moralmente correto;
<!--[if !supportLists]-->ð  <!--[endif]-->Era obediente ao pai, o contrário do comportamento dos outros filhos mais velhos;
<!--[if !supportLists]-->ð  <!--[endif]-->José teve dois sonhos, que relatou a todos (devia ter guardado para si, ou só contado ao pai) em que apareciam tributando honras a ele;
<!--[if !supportLists]-->ð  <!--[endif]-->Por meio desses sonhos, e pelo favoritismo do pai a José e a capa que recebeu, os seus irmãos imaginavam que ele seria escolhido para filho primogênito, pois conheciam a história do próprio Jacó contra Esaú, e como Isaque, o avô deles, fora enganado;
<!--[if !supportLists]-->ð  <!--[endif]-->Ele delatou o mau comportamento dos filhos de Bila e Zilpa ao pai – e quem gosta de ser denunciado? Principalmente se já há animosidade!
<!--[if !supportLists]-->ð  <!--[endif]-->José, antes de delatar esses seus irmãos, os repreendeu, pelo que eles se sentiram humilhados, pensando: quem é ele para nos dar conselhos ou reprovar o que fazemos?;
<!--[if !supportLists]-->ð  <!--[endif]-->Ao chegarem em casa, descobriram que José havia contado tudo ao pai, que também buscou reprovar a conduta deles, e isso fez aumentar ainda mais a raiva contra José, pois passaram vergonha perante o pai;
<!--[if !supportLists]-->ð  <!--[endif]-->José se comportava como um filho mimado;
<!--[if !supportLists]-->ð  <!--[endif]-->Os demais filhos de Jacó, excluindo Benjamin, que era pequeno, eram dados a mau comportamento e até a violência, como se pode deduzir no episódio entre Siquém e Diná;
<!--[if !supportLists]-->ð  <!--[endif]-->José era favorecido pelo pai quanto ao trabalho, que parece usá-lo para ver como estavam os demais, levava-lhes pão, etc., mas não enfrentava as durezas do campo aberto.
Certamente há outros fatos não relatados. O lar tornou-se um lugar, não de amor, mas de xingamentos, pois os irmãos de José já não falavam com ele normalmente, porém, com a voz alterada, e com palavras ásperas. Ellen White relata em poucas palavras alguns pontos desse complicado relacionamento no lar de Jacó.
“O pecado de Jacó e o séquito de acontecimentos que determinou, não deixaram de exercer influência para o mal, influência esta que revelou seu amargo fruto no caráter e vida de seus filhos. Chegando esses filhos à virilidade, desenvolveram graves defeitos. Os resultados da poligamia foram manifestos na casa. Este terrível mal tende a secar as próprias fontes do amor, e sua influência enfraquece os laços mais sagrados. O ciúme das várias mães havia amargurado a relação da família; os filhos cresceram contenciosos, e sem a devida sujeição; e a vida do pai obscureceu-se pela ansiedade e dor.
“Houve um, entretanto, de caráter grandemente diverso - o filho mais velho de Raquel, José, cuja rara beleza pessoal não parecia senão refletir uma beleza interior do espírito e do coração. Puro, ativo e alegre, o rapaz dava prova também de ardor e firmeza moral. Escutava as instruções do pai, e gostava de obedecer a Deus. As qualidades que depois o distinguiram no Egito - gentileza, fidelidade e veracidade, já eram manifestas em sua vida diária. Morrendo-lhe a mãe, suas afeições prenderam-se mais intimamente ao pai, e o coração de Jacó estava ligado a este filho de sua velhice. Ele "amava a José mais do que a todos os seus filhos". Gên. 37:3.
“Mas mesmo esta afeição deveria tornar-se causa de perturbações e tristezas. Jacó imprudentemente manifestou sua preferência por José, e isto provocou a inveja dos outros filhos. Testemunhando José a má conduta dos irmãos, ficava grandemente incomodado; arriscou-se delicadamente a chamar-lhes a atenção, mas isto apenas suscitou ainda mais o seu ódio e indignação. Não podia suportar vê-los a pecar contra Deus, e apresentou esta questão a seu pai, esperando que sua autoridade os pudesse levar a corrigir-se.
“Jacó evitou cuidadosamente suscitar a ira deles pela aspereza e severidade. Com profunda emoção exprimiu sua solicitude pelos filhos, e implorou que lhe respeitassem os cabelos brancos, e não trouxessem o opróbrio a seu nome, e, acima de tudo, que não desonrassem a Deus com tal desrespeito a Seus preceitos. Envergonhados de que sua impiedade fosse conhecida, os moços pareceram estar arrependidos, mas tão-somente esconderam seus verdadeiros sentimentos, que se tornaram mais amargos ao serem patenteadas as suas faltas.
“O indiscreto presente do pai feito a José, de um manto, ou túnica, de grande preço, tal como a usavam comumente pessoas de distinção, pareceu-lhes outra prova de sua parcialidade, e provocou-lhes a suspeita de que ele tencionava preterir seus filhos mais velhos e conferir a primogenitura ao filho de Raquel. Sua maldade ainda mais aumentou ao contar-lhes um dia o menino um sonho que tivera. "Eis que", disse ele, "estávamos atando molhos no meio do campo, e eis que o meu molho se levantava, e também ficava em pé, e eis que os vossos molhos o rodeavam, e se inclinavam ao meu molho." Gên. 37:7” (Patriarcas e Profetas, 208 e 209).


  1. Terça: A túnica de várias cores
O relacionamento dos filhos de Jacó com José já vinha deteriorando. Mas o presente imprudente que Jacó deu a José, e não aos demais – uma túnica de várias cores – era o que faltava para que eles não o suportassem mais. Isso aliando àqueles sonhos de superioridade foi o estopim para terem intentos de matá-lo.
Uma túnica dessas era usada por nobres, reis e príncipes. Por exemplo, no Egito, os faraós usavam, bem como os seus grandes. Não era um vestuário para povo comum. Era caríssima e continha em si símbolo de poder sobre os demais. Portanto, sendo José um filho obediente aos princípios de DEUS e fiel a seu pai, tendo comportamento exemplar, que mais faltava aos irmãos para deduzirem que Jacó o estava elegendo para receber a primogenitura, e ser o herdeiro da maior parte da herança do pai? E ainda ele ser líder dos demais? E outra coisa: havia ali três mães, pois Raquel, mãe de José e Benjamin, falecera, e cada uma queria que a primogenitura fosse de um filho seu. O lar se tornou um local de disputa de poder e da impressionante riqueza de Jacó.
Jacó aqui cometeu uma tremenda falha. Ele foi ingênuo. Dá a impressão de que ele queria mostrar aos demais filhos como José era bom, e que eles deveriam se tornar como ele. Presenteando-o, poderia estar a dizer: imitai-lhe o exemplo. Mas acontece que José era filho de Raquel, a esposa que ele mais amava. As outras esposas não gostavam de Raquel, e nem dos dois filhos dela. Portanto, o que Jacó fez foi piorar a situação. Ele não foi sábio, foi ingênuo. Pudera, desde criança ele era dado a resolver seus problemas por meio de atitudes imprudentes. Ele já fora o filho mimado de sua mãe Rebeca enquanto seu pai preferia Esaú. Mas esse tipo de problema já vinha do lar de Abraão e Sara, pois Isaque foi o filho preferido a Ismael, que com sua mãe foi expulso do lar.
Jacó não foi sábio ao comprar a primogenitura de Esaú por meio do guisado, e também não foi sábio com a questão do casamento envolvendo-se em negociatas com seu sogro Labão. Os erros de Jacó, ou provocaram a necessidade de fuga, ou o deixaram fragilizado para contra-argumentar com Labão. O caráter que Jacó vinha formando foi que definiu seus procedimentos com os filhos. Ele educou seus filhos de uma maneira incoerente. Aliás, pelo comportamento deles, na verdade ele dedicou-se a educar mais a José e a Benjamin, o mais novo, justamente filhos de Raquel, que deveria ser a sua única esposa.
O resultado disso tudo foi que José veio a ser, realmente, o líder da família, preparou o caminho deles para o Egito, e salvou toda a família da fome. Mas se não fosse DEUS agir em José, e nos demais filhos, só pela paternidade de Jacó, essa família certamente jamais teria se tornado numa grande nação. É de se notar que os irmãos de José tornaram-se humildes quando nada mais poderia fazer para sobreviver, quando passaram a depender inteiramente de José. Muitas vezes DEUS usa a fome para nos fazer entender que por nós mesmos nada podemos.
É de se pensar muito sobre como, hoje, estamos educando os nossos filhos. Jamais devemos ter um preferido e outros em segundo plano. Nem com os filhos, nem com os netos, nem com os bisnetos. Esse erro alguém já cometeu e resultou em grande infelicidade. E não fosse a ação de DEUS, pois tinha um plano para aquela família, a história seria bem outra, talvez uma tragédia.

  1. Quarta: A túnica arrancada
Os filhos de Jacó foram pastorear as ovelhas em campos mais distantes. Eles possuíam muitos animais. Jacó já não ia mais para este trabalho, perigoso e cansativo.
Então, estando os filhos de Jacó fora de casa por muitos dias, teve ele vontade de saber como passavam. E aí foi uma sucessão de imprudências e decisões ingênuas. Ele que possuía empregados poderia ter enviado alguns deles para obter essa informação. Ou pelo menos que José não fosse sozinho. Não só José foi só em direção dos irmãos que o odiavam todos os dias, como também foi vestido com aquela túnica ou capa que fez aumentar o ódio deles. Agora cabe a pergunta: como é que Jacó e José erraram tanto? Os dois eram puros, e sem propensão à malicia, mas também bastante ingênuos, capazes de elaborar planos imprudentes. Eles eram sujeitos a decisões ingênuas. Jacó já possuía um passado de decisões mal refletidas, que lhe rederam problemas graves.
Aliás, a situação era tão tensa naquele lar que, José indo com aquela túnica, isso seria visto como provocação e demonstração de superioridade, como se ele já fosse uma autoridade, preposto do pai, para cobrar deles informações. E se ele não fosse com a túnica, poderia ser isto interpretado como covardia, por estar longe da proteção do pai que o privilegiava em relação a todos os demais. Quando fazemos coisas sem a orientação de DEUS, a situação facilmente se assemelha ao da família de Jacó.
Os pastores viram José vir de longe. De imediato a túnica lhes chamou a atenção, a ponto de pensarem algo assim: “lá vem o filhinho do papai com sua túnica de imperador!” E não deu outra: o plano de matá-lo saiu como que ao natural. As condições tensas estavam maduras para um desfecho assim. E essa foi a decisão. Mas por intervenção de Rúben, justamente o mais velho, o primogênito, que seria o mais prejudicado caso o pai elegesse José para receber a bênção da primogenitura, foi ele protegido da morte. E o jogaram numa cisterna seca. Parece que já há tempos não chovia por lá. Depois o venderam para os ismaelitas, que o revenderam para o egípcio Potifar. Do ponto de vista humano, tudo ia mal para José; do ponto de vista de DEUS, se cumpria um plano, embora por vias tortas e não desejáveis – que um homem daquela família fosse na frente para preparar as condições para que todos pudessem viver por uns tempos no Egito. Ali a família deveria se tornar uma nação bem grande e depois retornar, no tempo certo, quando os cananeus estivessem no auge de sua pecaminosidade, e então tomar aquela terra para sempre.
Eles arrancaram a capa de José, e disseram: “vamos ver no que vão dar os sonhos dele”. A capa era símbolo de poder para José, poder sobre eles todos, de que seria o chefe deles. Agora, estavam tirando esse símbolo, e vendendo José para bem longe dali, para que ele nunca mais tivesse condições de se sobrepor a eles. Não imaginavam que DEUS, acima deles, estava olhando, e cumprindo um plano superior, que havia anunciado por meio daqueles dois sonhos. Naquele momento todos eles estavam despreparados para cumprir os planos de DEUS. Nem José estava preparado. Ele deveria sofrer para se tornar humilde, e para esse fim, os irmãos colaboraram com DEUS. Pensavam se livrar de José, mas o estavam enviando para uma amarga escola preparatória para se tornar uma das maiores autoridades do mundo naqueles tempos. José aprendeu a administrar na casa de Potifar, aprendeu sobre a cultura egípcia, aprendeu a se apegar a DEUS, a continuar sendo fiel aos ensinamentos de seu pai, em casa. A prova de fogo foi a tentação que a mulher de Potifar provocou. José preferiu correr o risco de ser preso, até de ser morto, mas não foi infiel a seu DEUS. Na prisão ele se destacou a ponto de ali também exercer a administração, e aprendeu mais lições de humildade. Pode-se ver que, embora em condições adversas, nesses dois lugares ele estava aprendendo a administrar. É que DEUS, que via o futuro, pretendia tornar José o administrador do Egito. Então precisava aprender essa ciência.
E os irmãos de José? Esses precisavam sofrer vendo a tristeza de seu pai, que nunca superou a perda de José. Essa tristeza os corroeu por dentro, e com o tempo se arrependeram do que fizeram, mas nunca tiveram coragem de contar ao pai. Afinal, isso o deixaria, além de triste, desesperado por não saber em que condições estaria (vivo?) seu filho predileto. Todos sofreram: José, Jacó e os outros filhos, por vários anos, até que tudo se resolveu, mas a solução foi por providência divina. O homem complicou, DEUS providenciou a solução. O mais curioso é que DEUS usou o mal feito deles para cumprir Seus planos. Esse DEUS é incrivelmente poderoso. Não se pode lutar contra Ele. A Sua inteligência é capaz de reverter os ataques dos homens contra o povo de DEUS em situação favorável a esse povo. Com DEUS não se brinca.
Outra lição a aprender desses fatos é que satanás sempre está pronto para agir contra o povo de DEUS. Ele perseguia os patriarcas. Ele atacou diversas vezes o patriarca Abraão (conflitos com os empregados de Ló; esposa foi como que tomada por outro príncipe, do mundo; o nascimento de Ismael por meio de uma empregada; etc.). Isaque também teve problemas, principalmente no caso da primogenitura de seus dois filhos, pois o primogênito natural não servia para seguir o patriarcado. E Jacó, do qual viriam as doze tribos, esse teve uma sucessão bem grande de problemas, não se podendo distinguir o que ele mesmo provocou e o que satanás inseriu. Fato é que, um dos doze filhos, que deveria formar as doze tribos, estava faltando. Para DEUS formar um povo peculiar, tudo começava mal, pois era uma família bem fora dos planos de DEUS, a começar por ter Jacó se casado com 4 mulheres, e pela tensão conflitiva entre as esposas e entre os filhos. Seria de uma família assim que DEUS iria formar uma grande nação? Pois DEUS, com Sua paciência, conseguiu, e até o príncipe da salvação, JESUS, veio ao mundo daquela família.
Por piores que nós somos, se dermos alguma oportunidade a DEUS de nos transformar, seremos modificados em pessoas semelhantes ao nosso Salvador. Essa é outra lição que podemos aprender daquela família atrapalhada, mas que ainda assim mantinha em seu meio algo da verdade de DEUS.

  1. Quinta: “A túnica de teu filho”
Quando a nossa mente está tomada pelo ódio ela acelera sua atividade elétrica, o foco da atenção se dirige para a raiva, estreitando-se nela, e perde a capacidade de pensamento racional. A mente passa a ser controlada pelo poder do ódio. E as decisões são determinadas por esse poder. Tudo o que o ódio quer, passa a ser desejado compulsivamente, e as ações são de acordo com essa compulsão.
Tomados pelo ódio arrancaram a capa de José e o venderam, apesar dele ter clamado por misericórdia. É de se imaginar que tivesse pedido perdão por tudo o que tivesse feito a eles, mas o ódio deles era tanto que não havia condições de algum pensamento sensato. Eles queriam vingança – é sempre isso que o ódio requer.
E o ódio deles não ficou só na vingança contra José. Também se vingaram contra o favoritismo de seu pai. Tentando ao mesmo tempo se livrar da culpa do que fizeram, jogaram as consequências dos fatos sobre o pai, colocaram sangue na capa de José e em grupo vieram a ele perguntando: “é essa a túnica de ‘teu’ filho?” Eles não queriam admitir ser José seu irmão. O pai o diferenciara pelo favoritismo, agora vinha a desforra, trazendo a capa e dizendo “teu filho”. Fizeram justiça pelas próprias mãos. Vingaram-se de um José exaltado e de um pai parcial. Como que dizendo: viu no que deu o seu favoritismo? Toma aí a capa de teu filho, cheia de sangue.
Mas eles não imaginaram que o pai viesse a sofrer tanto. O homem nunca mais foi o mesmo.
“Rúben voltou ao fosso, mas José ali não estava. Alarmado e censurando-se a si mesmo, rasgou seus vestidos, e procurou os irmãos, exclamando: "O moço não aparece, e eu aonde irei?" Sabendo da sorte de José, e que agora seria impossível recuperá-lo, Rúben foi induzido a unir-se aos demais, na tentativa de ocultar seu crime. Havendo morto um cabrito, mergulharam a capa de José no sangue, e levaram ao pai, dizendo-lhe que haviam achado no campo, e que receavam fosse de seu irmão. "Conhece agora", disseram, "se esta será ou não a túnica de teu filho." Tinham olhado antecipadamente para esta cena com receio, mas não estavam preparados para a angústia e a dor que foram obrigados a testemunhar. "É a túnica de meu filho", disse Jacó, "uma besta fera o comeu; certamente foi despedaçado José." Em vão seus filhos e filhas tentaram consolá-lo. "Rasgou os seus vestidos, e pôs saco sobre os seus lombos, e lamentou a seu filho muitos dias." O tempo não parecia trazer-lhe alívio ao pesar. "Com choro hei de descer a meu filho até à sepultura", era o seu desesperado clamor. Os moços, aterrorizados com o que tinham feito, e, contudo, temendo as reprovações do pai, ocultavam ainda em seu coração o conhecimento de seu crime, que mesmo para eles parecia muito grande” (Patriarcas e Profetas, 212).
Os filhos de Jacó tiveram que sofrer calados. Não tinham coragem de revelar os verdadeiros fatos. O sofrimento deles não atenuava, mas aumentava. O remorso os corroía por dentro. Tinham pecado a confessar, mas não conseguiam. Com o tempo o íntimo de cada um deles clamava por perdão. Esse sofrimento mudou o coração deles. Sentiram que deveriam depender de DEUS, não de sua opinião própria. Perceberam que deveria haver outros caminhos para resolverem seus conflitos em casa. Mas ainda não sabiam que DEUS estava dirigindo tudo a um bom desfecho. Um dia desses, descobriram-se prostrados, diante de José, o governador do Egito. E era o irmão deles.
Como é que o senso de independência deles caiu? Quando, diante da fome, não havendo mais como resolverem por si mesmos o problema, quando diante da morte e diante de José, tendo este a solução, viram-se totalmente dependentes do irmão que haviam odiado e que haviam cruelmente vendido.
Muitas vezes, para aprender uma lição simples, precisamos cair numa situação de total dependência de DEUS, ou de alguém outro!

  1. Aplicação do estudo Sexta-feira, dia da preparação para o santo sábado:
Vamos nos ater um pouco nos momentos do encontro de José com seus irmãos, no campo. Vamos fazer uma comparação entre o que aconteceu e o que deveria ter acontecido.
A irmã White retrata os fatos na citação utilizada pela lição. José estava apenas com 17 anos de idade. Ele ainda era adolescente, mas já chegando a idade jovem e adulta. Nessa idade muitas vezes ainda os rapazes são um tanto ingênuos. Os rapazes mimados tendem a ser ainda mais ingênuos, e muitas vezes fazem coisas inconvenientes, mesmo sendo de bom caráter. E José chegava feliz por poder rever os seus irmãos. Isso quer dizer que ele, na verdade, nada tinha contra eles. Ele os amava, e quando falava a seu pai o que eles faziam errado, era bem intencionado, queria ajudar a endireitar as coisas. Nesse sentido José era um bom caráter.
Na sua alegria em ver os irmãos, em saber que estavam todos bem, em estar com eles, ele foi chocado pelo ódio de pessoas que queriam vê-lo morto. A recepção foi fulminante, e jogou José a uma forte situação psicológica de pânico do que estavam por fazer, e de agonia de estar sofrendo nas mãos de pessoas de sua família, e que ele queria bem. Rudemente arrancaram-lhe a capa, e isso deve ter assustado José. Falavam todos ao mesmo tempo, em voz alta. Estavam alterados. As pessoas que ele amava e queria bem, queria que melhorassem, o prenderam, o trataram mal, queriam matá-lo, mas o jogaram numa cisterna, e depois o venderam. E em tudo isso, não demonstraram nenhum sentimento de piedade. Não houve despedidas, mas xingamentos, palavrões. Foi assim que José viu seus irmãos pela última vez. Essa cena é que ficou em sua mente. Difícil não querer vingança algum dia, ainda mais se houver oportunidade.
Como deveria ter sido esse encontro? Finalmente estariam a sós com José. Rúbem, o mais velho, deveria liderar aquele encontro. Poderiam tê-lo recebido bem, conversado sobre a viagem, sobre como estavam seu pai e as mães, e sobre como eles estavam. Isso seria o normal. Então, depois de algum tempo, sob a liderança do mais velho, pois assim que se faziam as reuniões naqueles tempos, conversarem sobre o que os incomodava devido o comportamento de José. Certamente José os ouviria e entenderia o lado deles. A questão dos sonhos, da capa, e a ligação mais íntima entre Jacó e José que com eles. Com calma e oração poderiam racionalmente tratar dessa situação, e preparar o caminho na direção da harmonia do lar. Agindo assim, por liderança de Rúbem, este se estaria preparando de modo sábio e inteligente para ser o primogênito, e eles agiriam em conformidade como DEUS deseja.
Mas, nesse caso, como José iria ao Egito, cumprir a vontade de DEUS de alguém da família ir na frente? Não nos preocupemos com isto, pois DEUS é suficientemente capaz para resolver isto. Aliás, Ele foi capaz para cumprir o Seu plano a despeito dos maus tratos de seus irmãos. Mais facilmente ele levaria Seus planos a bom termo havendo harmonia no lar.
E nós, o que aprendemos dessa história? Ao menos duas coisas. A primeira é que não se pode lutar contra DEUS. Jamais conseguiremos êxito. Se cairmos no erro de lutar contra DEUS, estaremos nos aliando com satanás, e esse aí já é um fracassado desde o princípio de sua aventura. Outro ponto a aprender é que, sendo fiéis, e mesmo parecendo que está dando tudo errado, parecendo que o futuro é péssimo, DEUS tem planos e os está cumprindo, podendo haver uma virada na tendência dos fatos de um momento para outro. Aos que enfrentam dificuldades, lembrem-se de José, e sejam como ele: fiéis em tudo, mudando em sua vida o que é incoerente em relação à vontade de DEUS, que já sabem estar errado. É assim que Enoque andou com DEUS, e também foi aprovado. Foi assim que José se tornou governador do Egito, e também de seu próprio pai e suas mulheres.

escrito entre  09 e 15/03/2011
revisado em  16/03/2011
corrigido por  Jair Bezerra


Declaração do professor Sikberto R. Marks
O Prof. Sikberto Renaldo Marks orienta-se pelos princípios denominacionais da Igreja Adventista do Sétimo Dia e suas instituições oficiais, crê na condução por parte de CRISTO como o comandante superior da igreja e de Seus servos aqui na Terra. Discorda de todas as publicações, pela internet ou por outros meios, que denigrem a imagem da igreja da Bíblia e em nada contribuem para que pessoas sejam estimuladas ao caminho da salvação. O professor ratifica a sua fé na integralidade da Bíblia como a Palavra de DEUS, e no Espírito de Profecia como um conjunto de orientações seguras à compreensão da vontade de DEUS apresentada por elas. E aceita também a superioridade da Bíblia como a verdade de DEUS e texto acima de todos os demais escritos sobre assuntos religiosos. Entende que há servos sinceros e fiéis de DEUS em todas as igrejas que no final dos tempos se reunirão em um só povo e serão salvos por JESUS em Sua segunda vinda a este mundo.

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