quinta-feira, 4 de maio de 2006

Mundo Virtual - Você vive em que "Mundo"????

Mundos virtuais

Vi este texto no blog do Michelson Borges(
www.michelsonborges.blogspot.com) e achei muito bonito.
Faz nós pensarmos...

Entrei apressado e com muita fome no restaurante.

Escolhi uma mesa bem afastada do movimento, pois queria aproveitar os poucos minutos de que dispunha naquele dia atribulado, para comer e consertar alguns bugs de programação de um sistema que estava desenvolvendo, além de planejar minha viagem de férias que há tempos não sei o que são.

Pedi um filé de salmão com alcaparras na manteiga, uma salada e um suco de laranja, afinal de contas fome é fome, mas regime é regime, né? Abri meu notebook e levei um susto com aquela voz baixinha atrás de mim:
– Tio, dá um trocado?

– Não tenho, menino.

– Tio, é só uma moedinha para comprar um pão.

– Está bem, compro um para você.

Para variar, minha caixa de entrada estava lotada de e-mails. Fiquei distraído vendo poesias, as formatações lindas, dando risadas com as piadas malucas. Ah! Aquela música me levou a Londres e a boas lembranças de tempos passados.

– Tio, pede para colocar margarina e queijo também.Percebi que o menino tinha ficado ali.

– Ok. Vou pedir, mas depois me deixe trabalhar, estou muito ocupado, tá?

Chegou a minha refeição e junto com ela meu constrangimento. Fiz o pedido do menino, e o garçom me perguntou se queria que mandasse o garoto ir embora. Meus resquícios de consciência me impediram de dizer. Disse que estava tudo bem. Que o deixasse ficar. E que trouxesse o pão e mais uma refeição decente para ele. Então ele sentou à minha frente e perguntou:

– Tio, o que está fazendo?

– Estou lendo uns e-mails.

– O que são e-mails?

– São mensagens eletrônicas mandadas por pessoas via Internet.

– Sabia queele não ia entender nada, mas, a título de livrar-me de maiores questionários, disse:

– É como se fosse uma carta, só que via Internet.

– Tio, você tem Internet?– Tenho sim. É essencial ao mundo de hoje.

– O que é Internet ?

– É um local no computador onde podemos ver e ouvir muitas coisas, notícias, músicas, conhecer pessoas, ler, escrever, sonhar, trabalhar, aprender. Tem de tudo no mundo virtual.

– E o que é virtual?

Resolvi dar uma explicação simplificada, novamente na certeza de que ele pouco entenderia e iria me liberar para comer minha refeição, sem culpas.

– Virtual é um local que imaginamos, algo que não podemos pegar, tocar. É lá que criamos um monte de coisas que gostaríamos de fazer. Criamos nossas fantasias, transformamos o mundo em quase como queríamos que fosse.

– Legal isso. Gostei!

– Mocinho, você entendeu o que é virtual?

– Sim, também vivo nesse mundo virtual.

– Você tem computador?

– Não, mas meu mundo também é desse jeito... Virtual. Minha mãe fica todo dia fora, só chega muito tarde; quase não a vejo. Eu fico cuidando do meu irmão pequeno que vive chorando de fome e eu dou água para ele pensar que é sopa. Minha irmã mais velha sai todo dia e diz que vai vender o corpo, mas não entendo, pois ela sempre volta com o corpo. Meu pai está na cadeia há muito tempo, mas sempre imagino nossa família toda junta em casa, muita comida, muitos brinquedos de Natal, e eu indo ao colégio para estudar e virar médico um dia. Isso é virtual, não é, tio?

Fechei meu notebook, não antes que as lágrimas caíssem sobre o teclado. Esperei que o menino terminasse de literalmente devorar o prato dele. Paguei a conta e dei o troco para o garoto, que me retribuiu com um dos mais belos e sinceros sorrisos que já recebi na vida, e com um “Brigado, tio. Você é legal!”

Ali, naquele instante, tive a maior prova do virtualismo insensato em que vivemos todos os dias, enquanto a realidade cruel rodeia de verdade e fazemos de conta que não percebemos.

"Autor Desconhecido"

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